A Moça com Brinco de Pérola

Revendo o filme de Peter Webbe (2003). Também curiosidades sobre como era o trabalho no ateliê dos Velhos Mestres: a obtenção e elaboração de corantes, tintas e processos conforme registros de Cennino Cennini.

O filme “Moça com Brinco de Pérola” (Girl With Pearl Earring); mostra Johannes Vermeer (Colin Firth) em seu atelier, seu relacionamento com a jovem Griet (Scarlett Johansson), época em que pinta o retrato, considerado a Monalisa holandesa; a camponesa, com sua beleza e simplicidade, a jovem que o auxilia no preparo das tintas, na organização do atelier e toca com os sentimentos de Vermeer. Escrito por Olivia Hetreed, baseado no romance da escritora Tracy Chevalier, no qual procura desvendar o clima por detrás da pintura. O filme é dirigido por Peter Webber, recomendo. Não podemos afirmar até que ponto é fiel a história, mas a boa fotografia, figurino e reconstituição de época, ajuda a transportar a nossa imaginação para os anos entre 1632 e 1675, talvez em algum momento da década de 1660. O contexto do filme é convincente; fica difícil imaginar que os fatos reais tenham acontecido de maneira diferente.

Julga-se que Vermeer mantinha uma paixão secreta por Griet, porém nunca manifesta por palavras. Webber consegue transmitir sentimentos sem palavras. Entre as várias sequencias destaco a cena no ateliê. Através de gestos e luzes vemos Vermeer e Griet, em silêncio, trabalhando, ela preparando as tintas e ele na elaboração de uma cena a ser pintada. Nota-se uma interação, uma compreensão múta dos sentimentos, que dificilmente poderiam ser expressos em palavras.

Há varias suposições sobre o trabalho de Vermeer quanto aos aspectos técnicos e materiais empregados em suas obras. Não sabemos com certeza se usava um medium (diluente) com resina especial, ou em alguns casos a câmara obscura para projetar a composição sobre a tela. Mas o  que podemos afirmar é que usava os meios disponíveis na época. 

Como curiosidade vamos ver algumas anotações de Cennino d’Andrea Cennini. Ele é geralmente lembrado pelo  Il libro dell’arte, início século XV.  Que é um “manual de instruções” sobre a arte do Renascimento. Acredito que entre essa época e os anos em que Vermeer viveu, não houve grandes evoluções nos materiais de pintura. Tudo era muito artesanal e para nós, artistas pintores atuais,  algumas coisas talvez pareçam estranhas.

A maioria dos pigmentos era de origem natural, as cores terrosas eram as mais baratas, talvez, por esse motivo, a primeira camada de tinta era feita nessas cores , como terra verde, terra queimada e etc. Era uma terra, de certo lugar, com características peculiares, moída e peneirada até ser reduzida a um pó muito fino; até hoje temos tintas com nomes de terra verde e terra de siena. O azul, equivalente a tonalidade ao nosso azul ultramar, era obtido do lápis-lazúli, uma pedra semipreciosa que vinha do Afeganistão, do alem mar, daí a origem do seu nome, caríssimo (embora raro, ainda hoje é comercializado e destina-se a trabalhos de restauração). O preto vinha da combustão parcial de elementos orgânicos, mais ou menos como colocar a chama de uma vela próxima a um vidro e recolher a fuligem, o negro de fumo. Outros pigmentos eram obtidos por “alquimia”, como o branco de chumbo e o verdete (Verdi gris). Existem alguns poucos documentos da época tratando sobre a pintura. Dois livros interessantes o “Del La Pittura” de Leon Batizta Alberti; escrito em 1435-36, em Florença, e, o “Libro dell’arte” de Cennino d’Andrea Cennini 1370 – 1440, (Wikipedia, inglês)  , do qual se pode baixar uma uma cópia, e-book, pdf, da edição de 1859 no link, “Progetto Manuzio”, Associazone Culturale Liber Liber; da qual citaremos alguns trechos relacionados às tintas. A tradução é um pouco complicada: materiais da época, hoje, não são encontrados no cotidiano e a construção das frases de Cenino também não é muito comum. Certamente  o original era em latim, mas não consegui uma cópia. Gostei dessa versão em italiano. Sugestões serão bem vindas e ficarei muito grato.

(O “Libro dell’arte” é obra de domínio público; os trechos são traduções livres, dessa versão em italiano feitas pelo autor)

 

CAPÍTULO XXXVII

As diversas formas de fabricar o preto

Observe que o preto se apresenta em varias formas de cores. Há um preto que é mais suave pedra preta (tende para o acinzentado) é uma cor gorda. Tenha em mente que uma cor magra é melhor do que uma gorda; exceto para a douração, se aplicar o verde terra (que é uma cor gorda), a douração no painel será melhor. Deixemos este assunto de lado. Há um negro que é feito de ramos de videira. Os galhos são postos a queimar, após jogue água para matar (o fogo), e depois se trabalha como os outros pretos. Esta é uma cor muito magra; é uma das cores perfeitas que nós empregamos de maneira geral… Existe outro preto que é feito de caroços de pêssego queimados ou de pedras. Há outro preto que é feito desta forma: pegue uma lâmpada, encha com óleo de linhaça e a acenda. Então a coloque, acesa, debaixo de um prato de assar, bem limpo, e deixe a chama debaixo da assadeira, dois ou três dedos de distância; a pequena chama irá atacar o fundo do prato (depositar fuligem). Espere um pouco, passe esta fuligem para um papel ou um prato, este preto não precisa ser trabalhado, é uma cor muito pura. Recarregue a lâmpada com óleo várias vezes e colocando-a sob do prato faça a quantidade que você precisar.

( “CAPITOLO XXXVII.

Il modo di sapere far di più maniere nero.

Nota che del negro son più maniere di colori. Negro egli è una pietra negra, tenera, e ‘l colore è grasso. Avvisandoti che ogni color magro è migliore che il grasso: salvo che in mettere d’oro, bolio, o verdeterra, che abbia a mettere d’oro in tavola, quanto più è grasso, tanto viene miglior oro. Lasciamo star questa parte. Poi è negro il quale si fa di sermenti di viti; i quali sermenti si vogliono bruciarli; e quando sono bruciati, buttarvi su dell’acqua e spegnerli, e poi triarli a modo dell’altro nero. E questo è colore negro e magro; ed è de’ perfetti colori che adoperiamo, ed è il tutto. È um altro negro che si fa di guscia di mandorle, o di persichi arsi; e questo è perfetto nero e sottile. È un altro negro che si fa in questa forma. Togli uma lucerna piena d’olio di semenza di lino, e empi la detta lucerna del detto olio, e impiglia la detta lucerna: poi la metti così impresa sotto una tegghia ben netta, e fa’ che la fiammetta della lucerna stia appresso al fondo della tegghia a due o tre dita, e ‘l fummo ch’esce della fiamma batterà nel fondo della tegghia: affumasi con corpo. Sta’ un poco; piglia la tegghia, e com qualche cosa spazza questo colore, cioè questo fummo, in su carta o in qualche vasello; e non bisogna triarlo, né macinarlo, perocché egli è sottilissimo colore. Così per più volte riempi la lucerna del detto olio, e rimetti sotto la tegghia, e fanne per questo modo quanto te ne bisogna.”)

CAPÍTULO XLV

Sobre a natureza de uma cor amarela que chamamos de ocre.

O amarelo é uma cor natural, a qual se chama ocre. Essa cor é encontrada nas terras de montanha, próximo de onde se encontram veios de enxofre; e lá ao redor desses veios se encontra também a sinopia a terra verde e outros tipos de cores. Encontrei essas cores, um dia, quando caminhava guiado pelo meu pai Andrea Cennini, explorando as terras de Colle de Valdesa, nas fronteiras de Casole, num bosque de Colle, em um lugarejo que se chama Dometaria. E, andando por um caminho, em uma gruta muito selvagem, raspando a parede da gruta com uma enxada, eu vi aparecer várias cores: ocre, sinopia escura e clara, azul e branco, que eu vejo como o maior milagre do mundo, que branco poderia ser esse de um veio de terra; lembrando que eu não fiz a prova deste branco, a prová-lo se é gordo e não avermelhado. Ainda que os veios, no local, eram de cor negra. E viam-se várias cores no local, como se mostra a pele enrugada de um homem ou de uma mulher. Retornando à cor ocre, raspando com uma  pequena faca a camada superficial desse veio, afirmo que nunca vi um ocre mais bonito e perfeito…

( “CAPITOLO XLV.

Della natura di un color giallo ch’è chiamato ocria.

Giallo è un color naturale, il quale si chiama ocria. Questo colore si trova in terra di montagna, là ove si trovano certe vene come di zolfore; e là ov’è queste vene, vi si trova della sinopia, del verdeterra, e di altre maniere di colori. Vi trovai questo, essendo guidato un dì per Andrea Cennini mio padre, menandomi per lo terreno di Colle di Valdelsa, presso a’ confini di Casole, nel principio della selva del comune di Colle, di sopra a una villa che si chiama Dometarìa. E pervegnendo in uno vallicello, in una grotta molta salvatica, e raschiando la grotta con una zappa, io vidi vene di più ragioni colori: cioè ocria, sinopia scura e chiara, azzurro e bianco, che ‘l tenni il maggior miracolo del mondo, che bianco possa essere di vena terrigna; ricordandoti che io ne feci la prova di questo bianco, e trova’lo grasso, che non è da incarnazione. Ancora in nel detto luogo era vena di color negro. E dimostravansi i predetti colori per questo terreno, sì come si dimostra una margine nel viso di uno uomo, o di donna. Ritornando al colore dell’ocria, andai col coltellino di dietro cercando alla margine di questo colore; e sì t’imprometto che mai non gustai il più bello e perfetto colore di ocria. …” )

CAPÍTULO LVI

 Sobre o carater de um vede que se chama verdi gris.   

O verde é uma cor que se chama verdete. É muito verde, por si só; e ele é fabricado pela alquimia, do cobre e vinagre. Essa cor é boa no painel, temperado com cola. Tome cuidado para nunca obtê-lo junto a qualquer fio branco, pois eles são inimigos mortais, em todos os aspectos. Trabalhá-lo com vinagre, que se mantém de acordo com sua natureza. E se você quiser fazer um verde mais perfeito para a relva. É bonito para os olhos, mas não dura. E isso é especialmente bom no papel ou pergaminho, temperada com gema de ovo.

( “CAPITOLO LVI.

Della natura di un verde che si chiama verderame.

Verde è un colore il quale si chiama verderame. Per se medesimo è verde assai; ed è artificiato con archimia, cioè di rame e di aceto. Questo colore è buono in tavola, temperato con colla. Guarda di none avvicinarlo mai com biacca, perché in tutto sono inimici mortali. Trialo con aceto, che ritiene secondo suo’ natura. E se vuoi fare un verde in erba perfettissimo, è bello all’occhio, ma non dura. Ed è buono più in carta o bambagina o pecorina, temperato con rossume d’uovo.” )

CAPÍTULO LXII

Sobre a natureza e o método para fazer o azul ultramar.

O azul ultramar é uma cor nobre, bela, perfeita, superior as outras cores; da qual não se pode dizer e nem falar daquilo que não se sabe (elogio). E, considerando a sua excelência, eu vou falar longamente e demonstrar com detalhes como se faz. E preste atenção para ela, que você poderá obter grande honra e serviço. E esta cor, juntamente com o ouro (o qual adorna os trabalhos da nossa arte), quer nas paredes ou nos painéis, torna tudo resplandecente. Primeiramente tome algumas pedras de lápis-lazúli (lazulita). E se você souber distinguir a boa pedra, apanhe aquela que tem uma cor azul mais dominante, pois ela é misturada com algo semelhante à cinza. Aquela que tem menos deste pigmento cinza é melhor. Mas seja atencioso, para que não seja azul de magna, que parece muito bonito aos olhos, semelhante ao esmalte. Coloque em uma mortalha de bronze (recipiente para moer), coberta, para que não saia poeira; então o ponha sobre uma laje de proferia (uma pedra, rocha ígnea, plana), e moa sem água; em seqüência pegue uma peneira (coador, filtro), coberto, semelhante aos usados pelos droguistas, para coar drogas (especiarias), e peneire novamente, repetindo o processo tanto quanto necessário. Mas tenha em mente, que, quanto mais você moer, mais fino o pó azul vai ficar, e não ficará um azul tão bonito e profundo; e esta espécie de pó fino é indicada para pintores de miniaturas, e para roupagens que tendem para o branco. Quando o pó é preparado, consiga com um químico, seis onças de resina de pinho, três onças de resina de mastic e três onças de cera nova para cada libra de lápis-lazúli. Coloque todos esses ingredientes em um recipiente e misture-os. Com uma peça de tecido, de linho branco, peneire sobre uma bacia esmaltada (vitrificada). Então pegue uma libra de pó de lápis-lazúli e misture tudo junto até formar uma pasta de modo manuseável. Pegue óleo de semente de linho e mantenha sempre as mãos untadas com esse óleo. Esta pasta deverá descansar, por três dias e três e noites, amassando-a um pouco todos os dias; e lembre-se de deixar a massa descansar ainda de quinze dias a um mês, ou, tanto quanto você desejar. Quando quiser tirar o azul (pigmento) da pasta faça deste modo. Prepare dois bastões de madeira resistente, nem muito grosso, nem muito fino, com cerca de um pé de comprimento, com as extremidades arredondadas e bem polidas. Então, a pasta estando na bacia esmaltada, acrescente uma tigela de lixívia moderadamente quente, e com esses dois bastões, um em cada mão, mexa e amasse a pasta, da mesma maneira que se sova o pão. Quando você observar que a lixívia está totalmente azul ponha-a em outra vasilha esmaltada; pegue a mesma quantidade de lixívia fresca, derrame sobre a pasta e trabalhe com os bastões como anteriormente. Quando essa lixívia estiver muito azul, ponha-a deite-a em outra vasilha esmaltada, e continue fazendo assim por vários dias, até que a pasta não tinja mais a lixívia de azul. Então jogue fora (o restante da pasta), pois não serve mais para nada. Coloque as vasilhas sobre uma mesa, em ordem, isto quer dizer, a primeira, a segunda, terceira e quarta; começando pela primeira vasilha, com as suas mãos, vire a vasilha com o lápis-lazúli, o qual sendo mais pesado e ficará no fundo, então você verá a pureza do azul. Considere quantos tons de azul forem do seu desejo, sempre lembre que o produto da primeira extração (1ª bacia), sempre será melhor do que a segunda. E se tiver oito bacias (recipientes) de extrato, e você desejar três tonalidades de azul, pegue o conteúdo de seis recipientes e misture-os; isso dará uma tonalidade única. Proceda da mesma maneira com as outras. Mas lembre-se, se quiser um bom lápis-lazúli, os dois primeiros extratos valem oito ducados à onça. Os dois últimos extratos são piores do que as cinzas. Seja prático, não misture o bom azul com o ruim; e cada dia remova a lixívia para o azul (pigmento) poder secar. Quando estiver bem seco, e de acordo com a sua qualidade, coloque-o em bolsa de pele, em uma vesícula, ou outra bolsa, como julgar mais conveniente. E observe que se o lápis-lazúli não for quase perfeito, se não for um azul profundo, eu lhe direi como dar um pouco de cor. Apanhe um pouco de quermes e um pouco de verzino, observe que o verzino reage com o vidro, e ferva tudo junto com a lixívia ou um pouco de alúmem. E quando ferver verá que a cor é um perfeito vermelho; antes de jogar fora o azul que sobrou no recipiente, já estando bem seco da lixívia, misture um pouco desta laca e verzino; deixe em repouso até secar, longe do sol, sem aquecer no fogo e longe do vento. Quando seco, ponha-a numa pele ou bolsa e alegre-se, pois é bom e perfeito. Tenha em mente que é um brinde raro para quem o sabe fazer bem. Você deve saber também que este é um ofício mais para as jovens do que para os homens, porque elas ficam mais em casa, são mais pacientes e as suas mãos são mais delicadas. Mas cuidado com as mulheres velhas. Quando for usar este azul, apanhe o quanto for necessário: se for trabalhar em vestes claras, deve ser mexido na sua maneira usual. E se quiser preencher fundos, deve ser um pouco trabalhado na pedra, e usar sempre água pura e a pedra estar bem lavada e limpa. Se o azul se tornar sólido, pegue um pouco de lixívia ou água límpida e coloque no recipiente, agite bem, trocando-a duas ou três vezes, até o azul se tornar limpo. Não tratarei da sua tempera (medium) porque posteriormente eu descreverei todas as têmperas próprias para cada cor a ser usada em painel, no mural, no ferro, na pedra ou no vidro.

( CAPITOLO LXII.

Della natura e modo a fare dell’azzurro oltramarino.

Azzurro oltramarino si è un colore nobile, bello, perfettissimo oltre a tutti i colori; del quale non se ne potrebbe né dire né fare quello che non ne siapiù. E per la sua eccellenza ne voglio parlare largo, e dimostrarti appienocome si fa. E attendici bene, però che ne porterai grande onore e utile. E diquel colore, con l’oro insieme (il quale fiorisce tutti i lavori di nostr’arte), ovuoi in muro, o vuoi in tavola, ogni cosa risprende.Prima, togli lapis lazzari. E se vuoi cognoscere la buona pietra, togli quella che vedi sia più piena di colore azzurro, però che ella è mischiata tutta come cenere. Quella che tiene meno colore di questa cenere, quella è migliore. Ma guar’ti che non fusse pietra d’azzurro della Magna, che mostra molto bella all’occhio, che pare uno smalto. Pestala in mortaio di bronzo coverto, perché non ti vada via in polvere; poi la metti in su la tua prìa profferitica, e triala sanza acqua; poi abbia un tamigio coverto, a modo gli speziali, da tamigiare spezie; e tamigiali e ripestali come fa per bisogno: e abbi a mente, che quanto la trii più sottile, tanto vien l’azzurro sottile, ma non sì bello e violante e di colore ben nero; ché il sottile è più utile ai miniatori, e da fare vestiri biancheggiati. Quando hai in ordine la detta polvere, togli dagli speziali sei oncie di ragia di pino, tre oncie di mastrice, tre oncie di cera nuova, per ciascuna libra di lapis lazzari. Poni tutte queste cose in un pignattello nuovo, e falle struggere insieme. Poi abbi una pezza bianca di lino, e cola queste cose in una catinella invetriata. Poi abbia una libra di questa polvere di lapis lazzari, e rimescola bene insieme ogni cosa, e fanne un pastello tutto 34 incorporato insieme. E per potere maneggiare il detto pastello, abbi olio di semenza di lino, e sempre tieni bene unte le mani di questo olio. Bisogna che tegni questo cotal pastello per lo men tre dì e tre notti, rimenando ogni dì un pezzo; e abbi a mente, che lo puoi tenere il detto pastello quindici dì, un mese, quanto vuoi. Quando tu ne vuoi trarre l’azzurro fuora, tieni questo modo. Fa’ due bastoni d’un’asta forte, né troppo grossa, né troppo sottile; e sieno lunghi ciascuno un piè, e fa’ che sieno ben ritondi da capo e da piè, e puliti bene. E poi abbi il tuo pastello dentro nella catinella invetriata, dove l’hai tenuto; e mettivi dentro presso a una scodella di lisciva calda temperatamente; e con questi due bastoni, da catuna mano il suo, rivolgi e struca e mazzica questo pastello in qua e in là, a modo che con mano si rimena la pasta da fare pane, propriamente in quel modo. Come hai fatto che vedi la lisciva essere perfetta azzurra, trannela fuora in una scodella invetriata; poi togli altrettanta lisciva, e mettila sopra il detto pastello, e rimena con detti bastoni a modo di prima. Quando la lisciva è ben tornata azzurra, mettila sopra un’altra scodella invetriata, e rimetti in sul pastello altrettanta lisciva, e ripriemi a modo usato. E quando la lisciva è bene azzurra, mettila in su un’altra scodella invetriata: e per lo simile fa’ così parecchi dì, tanto che il pastello rimanga che non tinga la lisciva; e buttalo poi via, ché non è più buono. Poi ti reca dinanzi da te in su una tavola per ordine tutte queste scodelle, cioè prima, seconda, terza, quarta tratta, per ordine seguitando ciascuna: rimescola con mano la lisciva con l’azzurro che, per gravezza del detto azzurro, sarà andato al fondo; e allora cognoscerai le tratte del detto azzurro. Dilìberati in te medesimo di quante ragioni tu vuoi azzurri, di tre, o di quattro, o di sei, e di quante ragioni tu vuoi: avvisandoti che le prime tratte sono migliori, come la prima scodella è migliore che la seconda. E così se hai diciotto scodelle di tratte, e tu voglia fare tre maniere d’azzurro, fa’ che tocchi sei scodelle, e mescolale insieme, e riducile in una scodella: e sarà una maniera. E per lo simile delle altre. Ma tieni a mente, che le prime due tratte, se hai buon lapis lazzari, è di valuta questo tale azzurro di ducati otto l’oncia, e le due tratte di dietro è peggio che cendere. Sì che sie pratico nell’occhio tuo di non guastare gli azzurri buoni per li cattivi: e ogni dì rasciuga le dette scodelle delle dette liscive, tanto che gli azzurri si secchino. Quando son ben secchi, secondo le partite che hai, secondo le alluoga in cuoro, o in vesciche, o in borse. E nota, che se la detta prìa lapis lazzari non fusse così perfetta, o che avessi triata la detta prìa che l’azzurro non rispondesse violante, t’insegno a dargli un poco di colore. Togli una poca di grana pesta, e un poco di verzino; cuocili insieme; ma fa’ che il verzino o tu ‘l grattugia, o tu il radi con vetro; e poi insieme li cuoci con lisciva, e un poco d’allume di rôcca; e quando bogliono, che vedi è perfetto color vermiglio, innanzi ch’abbi tratto l’azzurro della scodella (ma bene asciutto della lisciva), mettivi su un poco di questa grana e verzino; e col dito rimescola bene insieme ogni cosa; e tanto lascia stare, che sia asciutto senza o sole, o fuoco, e senz’aria. Quando il truovi asciutto, mettilo in cuoro o in borsa, e lascialo godere, ché è buono e perfetto. E tiello in te, ché è una singulare virtù a sapello ben fare. E sappi ch’ell’è più arte di belle giovani a farlo, che non è a uomini; perché elle si stanno di continuo in casa, e ferme, ed hanno le mani più dilicate. Guar’ti pur dalle vecchie. Quando ritorni per volere adoperare del detto azzurro, pigliane quella quantità che ti bisogna: e se hai a lavorare vestiri biancheggiati, vuolsi un poco triare in su la tua prìa usata: e se ‘l vuoi pur per campeggiare, vuolsi poco poco rimenare sopra la prìa, sempre con acqua chiara chiara, bene lavata e netta la prìa: e se l’azzurro venisse lordo di niente, piglia un poco di lisciva, o d’acqua chiara, e mettila sopra il vasellino, e rimescola insieme l’uno e l’altro: e questo farai due o tre mute, e sarà l’azzurro bene purgato. Non ti tratto delle sue tempere, però che insieme più innanzi ti mosterrò di tutte le tempere di ciascuni colori in tavola, in muro, in ferro, in carta, in pietra, e in vetro.” )

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